O susto
Entrou no elevador, ainda meio estremunhado da noite mal dormida, e iniciou, quase de imediatou, a vistoria ao seu reflexo no espelho do fundo:
A roupa da véspera, com a qual acabara por dormir, toda amarrotada, especialmente o blusão que, sem querer, servira de almofada; a cara, marcada e ainda inchada do sono, em particular em redor dos olhos, ainda incapzes de passar do entreabertos; o cabelo em desalinho, espetado aqui e ali, e a pedir, se não um bom banho, pelo menos uma passagem do pente ou da escova, e... MEU DEUS! O QUE É ISTO?! ... perdida no meio dos cabelo, sobre a fonte esquerda, uma madeixa do branco mais branco que alguma vez houvera visto!
Não podia ser! Era impossível!
Já tinha uns cabelos brancos, aqui e ali, é verdade, mas nada assim tão... tão evidente. Tão... enorme! E que, de certeza absoluta, no dia anterior não estava lá.
Iria isto espalhar-se? Iria tornar-se num daqueles estranhos casos, sobre os quais por vezes se lê ou ouve falar, de pessoas que de um dia para o outro ficam com o cabelo completamente branco?
Aproximou-se do espelho, afastou o cabelo à volta da madeixa, e tocou-lhe, como que para se certificar que era real. De sequida, sem esforço, retirou-a. Era apenas uma pena, afinal, do blusão ou de alguma das almofadas.
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