::domingo, dezembro 14, 2008

Palavra puxa palavra

- Olá, bom dia. Estou à procura do Sr.Jorge, disseram-me para vir aqui à portaria...
- O Jorge? Sim senhor, mas onde é que ele andará? Ora bem...
- O que me disseram foi que o senhor o poderia chamar...
- Sim, sim. Vou ligar aqui do meu telemóvel, deixe cá ver... ah, não tenho o número. Ora bem, vou ligar para outro lado para ver se ele lá está. Porque o número que eu tenho ali é de um Jorge, mas é o meu sobrinho, que está em Guimarães. Tou, menina não-sei-quantas? Olhe, o Jorge está aí? Não? Está aqui um senhor à procura dele. Sim... é o senhor...?
- Rui, dos escuteiros de Linda-a-velha.
- É um chefe dos escuteiros de Linda-a-Velha. Sim... Então pode fazer-me o favor de descobrir se ele está não-sei-onde e depois ligar-me para aqui? Não? Então, mas não lhe custa nada, é uma chamada interna. Vá lá... ok, ok, até já. Ela já liga. Isto sinceramente. Se lhe custava alguma coisa ligar.
- Er...
- Isto hoje em dia. Ninguém quer ajudar ninguém. Eu lembro-me quando era miúdo, era diferente. As pessoas ajudavam, e emprestavam se fosse preciso. E quem pedia emprestado não tinha outra preocupação enquanto não pagasse o que devia. Agora hoje... emprestei 200euros a uma moça, minha vizinha, em Fevereiro veja bem, ainda não me pagou. Foi passar férias a Espanha, e não sei que mais, mas pagar-me... está bem está. Também foi a última vez que lhe emprestei o que quer que fosse. E os patrões hoje em dia? Estão feitos uns latifundiários. É só ganância, querem tudo, querem tudo. Antigamente, não. Eram humildes.
- Pois, realmente...
- Olhe... hoje há aí um jantar qualquer de uma associação de solidariedade, e o Doutor pediu-me para fazer a noite. E eu vou fazê-lo, mas não lhe vou cobrar nada. É para ajudar. Se toda a gente ajudasse este mundo não estava como está. Porque o meu horário não é este.
- Ah.
- Normalmente faço só das 8h às 12h, por causa do pavilhão, sabe, aos Sábados de manhã é que é preciso estar cá por causa da catequese, mas daqui a pouco vou para casa, lá para o meio-dia, uma, e vou dormir uma soneca de uma horinha ou duas, para à noite poder estar cá. Sou reformado, sabe. Da GNR. Reformei-me cedo por causa de... Estou,sim? No refeitório? Pronto, muito obrigado. Adeus, até já. Está no refeitório, o Jorge.
- Ok, muito obrigado. Boas Festas.
- Adeus, boas Festas. Ó menina não-sei-quantas, chegue cá. Sabe o que é que foi aquela coisa ontem da rapariga não-sei-quê? Foi a mãe que a veio cá abandonar...