78
"Tens a certeza?"
"Sim, tenho. É só fazer as contas."
"Não é bem assim, mas está bem. Se dizes que foram 78, é porque foram 78."
"É mesmo só fazer as contas, sim. Desde que saibas o que estás a contar, claro."
"Tá bem. Já disse que acredito. Num ano?"
"Yup."
"Tens a certeza?"
"Ai!"
"Tou a brincar, tontinho. 78 num ano. Isso dá..."
"Dá uma média de 6,5 por mês. Nada de especial, vistas bem as coisas."
"Para mim foi especial."
"Sim? Ainda bem. Gosto de o saber. Para mim também, claro. E lembro-me de todas, sabes?"
"A sério? De todas? De cada uma das 78?"
"Bem, de cada uma individualmente é claro que não, mas de cada uma das ocasiões sim."
"Uau! Nem sei que te diga. Eu lembro-me de muitas mas não sei se me consigo lembrar de todas."
"Nem eu esperava que te lembrasses."
"Que parvo!"
"A sério. Porque é que te havias de lembrar? Sempre teve mais significado para mim."
"Não sejas assim. Se puxar pela cabeça tenho a certeza de que também me consigo lembrar."
"Vá, não te canses. Eu confesso que..."
"Que? Sim?"
"Que há uma de que não me lembro..."
"Ah! Apanhei-te! Tás a ver? Também não és infalível. Qual foi?"
"Não vais acreditar, mas... é da 1ª!"
"Ahahahah. Realmente! Só tu..."
"Porquê, tu lembras-te?"
"Isso não vale. Já te disse que tenho de pensar um bocadinho no assunto. Então e das outras, lembras-te mesmo, ou estavas só a armar?"
"Lembro pois. Queres que tas conte?"
"Hum... Pode ser. Quero ver isso."
"De trás para a frente, ou da 2ª em diante?"
"Do princípio, vá. Como deve de ser. Ou melhor, depois do princípio, já que desse dizes que não te lembras."
"Ok. Depois do princípio... vieram a 2ª e a 3ª. Foi no centro comercial. Lembro-me perfeitamente. Estavas a almoçar, e eu estava um pouco atrapalhado pois não sabia quem é que poderia aparecer e ver a cena."
"Ahahahah que pateta. Sou capaz de me lembrar vagamente disso."
"mas só vagamente, claro. Bom, a 4ª, 5ª e 6ª foram em tua casa. Com uma ajudinha do Zé. Um tipo fixe."
"Sim, é. E sim, dessa lembro-me. Foste um querido..."
"Ya, ya. A 7ª, 8ª, 9ª e 10ª foram no teu carro, em Lisboa. Estava mais uma vez cheio de medo que aparecesse alguém e estragasse tudo."
"Mas não apareceu..."
"Pois não. Sorte, talvez. Depois... depois..."
"Depois? Então, não te lembras, não é?"
"Lembro sim. É que estávamos mais ou menos chateados. Como estamos de vez em quando."
"A culpa é tua!"
"Eu sei... Dessa vez... foi fixe. Passámos um pelo outro, por acaso, num qualquer cruzamento, eu dei meia volta, fui atrás de ti e foi mesmo ali. A 11ª, a 12ª, a 13ª, a 14ª e a 15ª."
"Pois foi! Que susto que apanhei!"
"Eheheh. Devias ter visto a tua cara quando bati à janela do teu carro.
As seis seguintes foram no teu emprego. Acho que dessa vez eras tu quem estava com medo do que pudessem dizer."
"Pudera! Também tenho direito, ou não?"
"Claro que sim, claro que tens. Acho que a seguir... sim. Foi aquela que me deu mais gosto. Apesar de estarmos novamente de mal um com o outro. Mais ou menos. Foram 7. Da 22ª à 28ª."
"Qual foi?"
"Foi da vez que te 'dei' a tua alma..."
"Oh... já sei..."
"Uma estrela, branca e doce..."
"Pára com essas coisas, gaijo."
"Já parei! Podemos seguir em frente."
"Isso, isso."
"Pela altura do Natal. A 29ª, a 30ª... até à... 36ª! Acompanhadas de uma caixa de um bom vinho. Não me lembro o que era, estranhamente."
"Apanhaste um bebedeira, é o mais certo."
"Sabes bem. Ah!"
"E depois fizeste-me uma espera, para as que se seguiram..."
"Lembras-te? Estou surpreendido. Agradavelmente surpreendido."
"Pois... é que foi depois de... daquela cena e... já não estava à espera. E naquele local, ainda por cima."
"Certo. Claro. Eu também não."
"Não?"
"Quer dizer... mais ou menos. Acho que percebes. E foi tudo muito... frio. Não gostei dessa vez."
"O frio foste tu."
"Bem sei. Bem sei... Ainda assim, foram 9."
"Em quantas vamos?"
"Xi... espera. Ora... 55, se não me falham as contas."
"Ainda faltam, portanto."
"33. 'Diga 33'."
"Sim, diz."
"Muito bem. Respira fundo. A 46ª, 47ª e por aí a cima até à 56ª, foram novamente em tua casa. Apanhei-te mesmo antes de saíres para o emprego."
"Foi? Dessa não me lembro de todo. E mais?"
"Mais. Em minha casa, todas as 11 seguintes. Desta vez com a preciosa ajuda de uma querida amiga."
"A sério? E eu conheço?"
"Conheces, sim. Por acaso tinha ideia que te tinha falado da sua 'colaboração'."
"Se falaste não me lembro."
"Não? A sério? Oh, quem diria!"
"Miúdo, tás a habilitar-te..."
"Pronto, pronto. Não é preciso partir para a violência."
"Vá, acaba lá."
"Acabo? Como é que sabes?"
"Não é preciso ser nenhum génio da matemática, e além disso, lembro-me bem dessa vez."
"Lembras? Porquê? Por ter sido a última, pela quantidade, ou por ter sido mais uma vez no teu emprego e teres ficado super envergonhada com o 'flagra'?"
"Talvez um pouco de todas. Ou talvez por... não sei se diga."
"Que enigmática! Nem parece teu."
"É assim. Eu bem te digo que tu não me conheces."
"Pelos vistos até vou conhecendo. Do que gostas, pelo menos."
"Sim, isso acho que sabes. Não vão haver mais?"
"Ahahahahah... sois todas iguais, mulheres do Demo!"
"Tolinho."
"Sabes bem que não gosto de 'nuncas', mas..."
"Mas?"
"Mas não, não me parece. Nem vermelhas, nem brancas, nem azuis, nem amarelas..."
"Pronto, tá bem. Beijinho."
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