::sexta-feira, maio 20, 2005

Pânico

Eles chegaram!

Está confirmado.
Vi-os com 'estes olhos que a terra há-de comer'.

Já no outro dia me tinha parecido ter visto qualquer coisa.
Foi apenas de esguelha, assim com o canto do olho, de modos que não confirmei o 'avistamento' e atribuí tudo a uma 'ilusão de óptica', ou qualquer coisa do género.

Verdade seja dita que não me preocupei em olhar melhor. Em ver.
Ou se calhar não quis preocupar-me. Não quis ver.
Acho que foi mais isso.
Talvez por medo, não sei.
Por receio de confirmar algo no qual não queria acreditar.

Mas agora... não há mais voltas a dar-lhe. Já os vi.
Quase que lhes toquei para me assegurar de que eram reais.
Mas não cheguei a tanto. Não tive coragem.
Não foi preciso.

Não que estivessem bem à vista, à descarada.
Não, nada disso. Ainda se vão camuflando, tentando passar despercebidos, tentando perder-se no meio da multidão.

Mas eu topei-os. Mais do que um. Mais do que dois. Muitos!
E houve mais quem visse. Quem corroborasse a minha observação.

E agora... agora vai ser um instante até fazerem o que já fizeram, e vão fazendo, noutros locais. Vão começar a multiplicar-se, crescendo em nº e em força, gradualmente, aos poucos e poucos, até ao momento em que já não precisarão de se esconder mais. Nem sequer o conseguirão fazer, de tantos que serão.

A não ser... a não ser que alguém os ajude a manterem-se escondidos... a não ser que EU os ajude! Podia fazê-lo... Não seria o primeiro. Não seria, com certeza, o último.

Não! Que digo? Que disparate! Que... obscenidade. Nunca!
Antes matá-los! Dizimá-los! A todos. Um por um.

Mesmo que isso me obrigue a sacrificar os inocentes, no meio de quem eles se escondem e se reproduzem.

Mesmo que isso me obrigue a sacrificar... a ela.
Ela... teria de a liquidar também, claro. Sem espaço para hesitações.

Para ser completamente honesto, não me seria assim tão difícil fazê-lo.
Ela, afinal, sabe ao que veio. Ela sabe o quão precária é a sua situação.
Sabe bem que a uso, que é apenas um instrumento nas minhas mãos, um meio para um fim. Sabe que tem os dias contados (embora a data da sua partida seja ainda uma incógnita).

E não é como se nunca o tivesse feito. Ah, pois é!
Não seria a primeira vez que a despachava. Não seria a primeira vez que a mandava com dono. Não será assim tão difícil como isso, portanto, se e quando chegar o momento de tomar essa decisão.

Pode parecer horrível, frio, e cruel, o que estou a dizer, mas... é mesmo assim. TEM de ser assim. Precisamos de estar prontos a fazer sacrifícios em nome do 'bem maior'.

Ninguém vive eternamente, afinal. Nada dura para sempre.
Á excepção do plástico, claro está.

E nem eles durarão. Isso te asseguro.
Quanto mais não seja, quando me livrar dela, livrar-me-ei deles também.

AH!
Tinham feito melhor em ficar lá por onde estavam (e estão).
Com tanto espaço para onde se expandirem, tinham de se armar em gananciosos. Quizeram expandir horizontes, com certeza, conhecer novos mundos.

Pois tiveram azar! Comigo não brincam.

Quando mandar embora os pretos, os castanhos e os loiros, quando fizer, novamente, a barba, os malditos pelos brancos hão-de ir também!