::segunda-feira, junho 20, 2005

Como assim?

Como assim, alguém que perdeste? Perdeste como?
Como é que se pode perder alguém?

De muitas formas, bem sei. Umas piores que as outras.
Mas sei também que esta tua 'perda' não aconteceu, felizmente, da pior forma - a definitiva, sem solução - pelo que deve ter sido uma 'mera' perda temporária.

E, sendo temporária, o que quer que tenhas perdido, quem quer que tenhas perdido, poderá sempre voltar a ser encontrado. Desde que procures, claro, ou que tenhas a sorte de outro alguém o encontrar e, reconhecendo a 'propriedade', to devolver.

A não ser que tenha sido um perder num contexto de competição? No sentido em que não foste tu que ganhaste, mas outro? Não, não creio que seja isso. Nesse campo não és senão vencedor: és tu quem ergue a taça, quem sobe ao lugar cimeiro do pódio. E mesmo que assim não fosse, terias sempre a possibilidade de procurar recuperar a liderança, de voltar a tentar. Até porque não és do tipo de pessoas que desistem facilmente.

Terá sido um perder no sentido 'clássico'? Quando deste por isso já não o tinhas, e agora, por mais que tentes, não te consegues lembrar de onde o deixaste?

Vi uma vez um episódio da Twilight Zone, onde um homem saía de sintonia com o 'tempo normal' e ia parar a uma dimensão (no mesmo espaço físico) onde não existia mais ninguém (normal) à excepção de uns tipos que se ocupavam de mudar coisas de sítio: o relógio de cima da cómoda para debaixo da cama, o livro da estante para entre as almofadas do sofá, etc... Seriam estes seres os responsáveis por perdermos as nossas coisas, pelos nossos "Bolas, ia jurar que tinha deixado aqui as chaves do carro." (se calhar foram eles que me levaram o livrete do Yaris!).

Hum... não, pois não? Não é o tipo de coisa que nos aconteça com alguém, apenas com algo. Com os óculos, com as chaves, com o telemóvel, etc. Passa a vida a acontecer-me. E a ti também, provavelmente.

Foi o quê, então?
Um perder 'para a vida'? Para as escolhas que vamos fazendo, e através das quais construímos o nosso percurso, o nosso 'destino'?

Também acontece a toda a gente.
Com os colegas da escola, os do emprego, os companheiros de equipe, os amigos, os amores... As nossas escolhas vão-nos afastando e aproximando de uns e de outros, e uns dos outros, ao longo de toda a vida. É mesmo assim, não é? E é 'natural' que assim seja. "É a vida...", vamos dizendo.

Mas esse sentimento de perda... isso não é por qualquer um, pois não?
Não pensamos/sentimos assim por todos os colegas do liceu que nunca mais vimos, nem por todos os amigos do grupo que entretanto saíram de órbita. É algo que está reservado, não é? E naturalmente, também.

Mas, diz lá, não lhe sentes o tal carácter temporário? Não acreditas que é só 'até um dia'? Dia esse que chegará tão mais depressa quanto com mais afinco procurares pelo que 'perdeste'?

Ou não vale a pena procurar?
Claro que vale! Senão não sentias o que sentes. Digo eu.

E digo-te mais:

Alguma vez te sentiste perdido para alguém que amas ou tenhas amado?
No sentido em que esse alguém também possa ter pensado que te tinha perdido?
Não? Então como podes agora pensar que perdeste alguém que te ama a ti?

Não sabes que para perderes alguém, e ao contrário do que acontece com as coisas, é preciso que esse alguém queira ser perdido?