O dia
Estava a correr relativamente bem, até ao momento em que deixou que o sentimento de claustrofobia, a angústia, se apoderasse de si, em consequência da nova temporada engavetado.
Não é que não estivesse já - ao acordar, e até mesmo ao adormecer, na noite anterior - plenamente consciente de mais uma vez se encontrar nessa situação, ou que não estivesse a contar com ela já há algum tempo (era novamente uma dessas alturas do ano, tão propícias a isso), mas foi o começar a pensar que o tramou.
O pensar na forma como iria acabar desta vez. Nas alternativas possíveis, em particular nas menos agradáveis (do seu ponto de vista, claro). Nas mais prováveis, tendo em conta a história, e tudo o que já (se) passara.
"Engavetado, não" - pensou - "na prateleira".
Ela não gostava do termo, e mesmo ali (na gaveta, ou não), fazia-lhe a vontade. A verdade é que continuava, para todos os efeitos, à vista, não propriamente escondido. E para si, o efeito era o mesmo: estava à margem, afastado, sem se poder mexer ou agir como queria. Temporariamente suspenso. Novamente.
Não seria claustrofobia, portanto, mas sim vertigem.
Porque era uma prateleira bastante alta. Uma altura para a qual ele próprio contribuía, sabia-o bem, e à qual tinha decidido não voltar a subir. Decidido, pois sim. A realidade era que estava de novo lá. Á espera...
0 Transmissões (em formato antigo)
<< Take me home