::quinta-feira, outubro 18, 2007

O dia

Estava a correr relativamente bem, até ao momento em que deixou que o sentimento de claustrofobia, a angústia, se apoderasse de si, em consequência da nova temporada engavetado.

Não é que não estivesse já - ao acordar, e até mesmo ao adormecer, na noite anterior - plenamente consciente de mais uma vez se encontrar nessa situação, ou que não estivesse a contar com ela já há algum tempo (era novamente uma dessas alturas do ano, tão propícias a isso), mas foi o começar a pensar que o tramou.

O pensar na forma como iria acabar desta vez. Nas alternativas possíveis, em particular nas menos agradáveis (do seu ponto de vista, claro). Nas mais prováveis, tendo em conta a história, e tudo o que já (se) passara.

"Engavetado, não" - pensou - "na prateleira".

Ela não gostava do termo, e mesmo ali (na gaveta, ou não), fazia-lhe a vontade. A verdade é que continuava, para todos os efeitos, à vista, não propriamente escondido. E para si, o efeito era o mesmo: estava à margem, afastado, sem se poder mexer ou agir como queria. Temporariamente suspenso. Novamente.

Não seria claustrofobia, portanto, mas sim vertigem.

Porque era uma prateleira bastante alta. Uma altura para a qual ele próprio contribuía, sabia-o bem, e à qual tinha decidido não voltar a subir. Decidido, pois sim. A realidade era que estava de novo lá. Á espera...