Hoje é dia de festa (II)
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Porque é o último dia do ano.
Embora, e em bom rigor, seja mais noite de festa do que dia.
Porque é a transição entre este e o próximo que se celebra.
A passagem de ano.
O sair de 2004 e entrar em 2005.
E isso acontece à noite. À meia-noite.
Noite de festa, portanto.
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Ao contrário do que tem vindo a acontecer com a celebração do Natal, e até mesmo, talvez, numa forma inversamente proporcional, cada vez me entusiasmo menos com esta coisa do 'Fim de Ano'.
A verdade é que nunca foi uma coisa que me entusiasmasse por aí além, pelo que também não há muito entusiasmo a perder.
(2)
Como terá acontecido também contigo, o 'reveillon' começou por ser mais uma festa em família, com os amigos dos pais, e respectivos filhos, à mistura.
Guardo boas recordações de algumas dessas passagens de ano, com muita alegria, muito 'banzé e escarcéu' (o bater dos tachos e panelas) e, claro, o ficar acordado até à uma ou duas da manhã!
Com o passar do tempo, com a dispersão dos tais amigos, e com o 'crescimento natural' de pais e filhos, essas festas passaram a ser cada vez menos 'dignas' do nome e a assumir um carácter cada vez mais pacato.
Mais chato, portanto.
Apenas mais uma tradição que se cumpria.
Fora com o velho, venha o novo.
YAY! Passa, champagne, beijinho. Ok, vamos dormir.
(3)
Com a adolescência, e reforçadas na 'maior idade', vieram os fins de ano com os amigos. Voltaram as 'festas rijas'.
Começaram, algo timidamente, por ser apenas uma 'saída para copos', após a meia noite passada (ainda) com os pais. Mas não tardaram (muito) a evoluir (?) para o 'Fim de Ano' tal como o concebemos hoje:
Pegar nos amigos, e na bagagem mínima indispensável (bebidas, som, saco-cama...), e partir para 'parte incerta', para uma noite de alegria e boa-disposição. E, claro, alguns excessos.
Como aquela vez na Costa (numa das primeiras 'saídas'), onde passei parte da noite a cantar o Confortably Numb e acabei por adormecer no WC do quintal.
E como em tantas outras, desde as passadas nos apartamentos da Torre dos 3 Castelos, na Praia da Rocha - num dos quais, há exactamente 10 anos atrás, 'encontrei' a Carla - às passadas em Vila de Rei, no meio da serra, tendo um deles (97/98) marcado o início de um verdadeiro 'Ano Novo de Vida Nova' (saí de casa dos pais e mudei de emprego).
E claro, aquele em minha casa (98/99), onde o resultado dos teus excessos me obrigou a cortar parte da alcatifa :)
(4)
Ultimamente as coisas têm abrandado um pouco.
Mais que pouco. Têm abrandado muito.
E é natural que assim seja.
Estas coisas são cíclicas, tendendo a repetir-se de geração em geração.
Os putos de há meia-dúzia de anos atrás cresceram (em idade, pelo menos) e estão mais calmos. Mais cansados, uns. Mais atados, outros.
Alguns deles já têm os seus próprios putos, o que complica sempre um pouco mais as contas a festanças e afins.
Outros dispersaram, naturalmente, gravitando um pouco para fora da órbita do grupo.
E os fins de ano têm refletido um pouco todas essas alterações.
Os 3 últimos foram passados em casa. Literalmente. Lá em casa.
Com os amigos e a família.
O do ano passado terá sido o mais calmo de que tenho memória desde há muitos anos, tendo a meia-noite sido passada só com a família (os pais).
Foi também o mais triste.
Não pela companhia, longe disso, mas sim pela comparação com a 'alucinação' que tinha sido o anterior, com toda a sua alegria, ansiedade e expectativa (tu bem achaste que eu estava 'estranho'). Com o seu 'freaky meddley'.
Também o foi (triste) por quem lá não estava e por... outras coisas.
(5)
Durante muitos anos foi apenas isso que o 'Fim de Ano' representou para mim: uma oportunidade para estar e me divertir com os amigos, e para cometer alguns excessos (e se cometi!).
Um momento para me libertar das preocupações e responsabilidades, para limpar o sistema de todas as chatices e frustrações do ano.
A questão do 'Fim de Ano' propriamente dita, o seu significado, o porquê de toda a festa, tudo isso era meramente acessório e 'desprezável'. Era apenas um 'meio para atingir um fim'.
Na realidade, e para ti que já te interrogaste sobre isso, este nosso costume de celebrar o Novo Ano em festa começou por ser exactamente isso: um meio para um fim.
Os Romanos, que deram início à tradição (no mundo ocidental, pelo menos), acreditavam que o primeiro momento do novo ano tinha uma influência fundamental nos restantes, e que aquilo que se fizesse naquele acabaria, de alguma forma, por ser reproduzido nestes.
Assim, com o objectivo de viver um ano 'feliz e contente' e sem grandes preocupações, faziam por saudar a sua chegada dessa forma: em festa.
Quanto mais se divertissem na noite de ano novo, mais se haveriam de divertir no resto do ano.
Como diz num texto que encontrei algures por aqui, na internet:
"On the eve of the new year, men and women gathered in private houses and in inns in order to greet the new year in society. To be drunk on this day was considered indispensable even for those who did not like to get drunk on wine. Noise, shouting, songs, dances and hand-clapping filled the streets and buildings throughout the whole night."
Soa-te familiar?
:)
Deriva com certeza desta crença sobre a importância/influência do 1º dia do ano a nossa tradição de estrear uma peça de roupa azul (a bela da cueca, geralmente) no 1 de Janeiro. O porquê do azul é que se me escapa.
(6)
Não detesto o 'Fim de Ano' (como tu ;o), nada disso, mas continuo a não encontrar grande significado/entusiasmo na coisa, para além do já referido.
Toda aquela conversa do 'Novo Ano, Vida Nova' continua a passar-me um pouco ao lado.
É de facto um dia igual aos outros. Nada de concreto se altera, para além da data no calendário. E dos preços do pão e do leite, dos combustíveis, dos jornais, etc...
Mas pronto, lá está, aceito que é tão bom dia como outro qualquer para 'tentar de novo', fazer um 'reboot', 'arrumar a casa'. Compreendo que até dá jeito ter essa 'regra'. Uma data maracada para o fazer. Em que estamos todos na mesma sintonia e a partilhar o mesmo ideal: o de um amanhã melhor.
E agora que penso bem no assunto e na recapitulação que fiz para escrever este post, constato que mesmo sem (eu) querer, os meus fins/inícios de ano (mais semana, menos semana) têm, de facto, marcado inícios/fins de fases muito importantes na minha vida.
Foi assim em 1994/95 e em 1997/98.
Voltou a ser em 2001/02 e em 2002/03.
Este ano, e ao que tudo indica, volta a acontecer.
Curioso.
Nunca me tinha apercebido disto ou dado relevância ao assunto.
Mas começo a ver aqui um certo padrão, de facto.
Mais um pouco e estou feito um crente na mística do Ano Novo.
Afinal, se acredito em ter um dia especial para me reaproximar de ti, d'Ele e do Homem, porque não ter um para definir (e/ou efectivar) novas e melhores resoluções para o futuro?
(7)
Este ano, a minha noite de fim de ano vai ter uma forma bastante diferente de todas as anteriores. Forma e conteúdo.
Vou estar com alguns amigos (entre outros voluntários), a colaborar com uma associação juvenil de Oeiras (a ProAtlântico), num 'reveillon de solidariedade' que vão realizar para idosos e pessoas desfavorecidas do Concelho.
Servir à mesa, lavar loiça, limpeza e arrumações, etc...
Depois conto como foi.
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