::terça-feira, abril 12, 2005

Regateio

"Dois."
"Um."
"Dois!"
"Um ponto sete..."
"Um ponto sete?"
"Um ponto sessenta e cinco."
"Então?"
"Um!"
"Bolas! Decide-te!"
"Um..."
"Um? Um não consigo. Quero dois."
"Dois não pode ser, lamento."
"Mas ainda há pouco ofereceste um ponto sete!"
"Sim, é verdade. Mas... tem de ser um."
"'Tem de ser'... Um é pouco. Prefiro zero, nesse caso."
"Será como quiseres, mas eu ficaria muito contente se aceitasses um."
"Pois, eu também gostava de o conseguir aceitar..."
"Um ponto cinco, vá..."
"Um ponto cinco? Depois de já ter estado quase em dois?"
"Não?"
"Agradeço mas... ficar por aí, tão perto de dois... é muito complicado!"
"Eu sei... mas dois..."
"É 'impossível', já sei..."
"Ficamos em zero, então..."
"Não, zero não!"
"Não disseste que preferias assim?"
"Disse sim, mas... zero é muito mau."
"Claro que é. Para mim também."
"É?"
"É, sim. Sabes que sim. Aceita um, vá."
"Não posso. Não consigo. Mesmo."
"Um ponto seis?"
"Mas que coisa! Estás a brincar comigo?"
"Não, claro que não! Desculpa. É que... dois não pode ser."
"Só porque não queres!"
"Não sejas assim. É o melhor que consigo fazer..."
"Ora... será? Sabes tão bem como eu que não é."
"Não sei não. Não é assim tão simples como queres fazer parecer..."
"Não?"
"Claro que não! Teria de refazer todas as contas.. é muito complicado..."
"E então? Os prejuízos ultrapassariam os ganhos, é isso?"
"É... é isso."
"..."
"Desculpa, mas é essa a minha análise..."
"Um ponto seis, foi o que disseste?"
"Se quiseres..."
"Não é que seja pouco, porque não é, de facto (e em termos absolutos), mas..."
"Mas...?"
"Mas é demasiado perto de dois. Iria passar a vida a pensar nas quatro décimas que faltam..."
"Então aceita um, caramba!"
"Não posso. Não sabendo que queres oferecer mais que isso..."
"Pois, compreendo..."
"Pois."
"Vá... em que ficamos, afinal?"
"Na mesma, está visto. Pelo menos enquanto se mantiver a conjuntura..."
"Um ponto qualquer coisa, portanto."
"Nem mais..."
"...nem menos."