Acordou
Com muito esforço, fazendo por ignorar a dor que o brilho intenso lhe causava, Arconciel tentou abrir os olhos. Não conseguiu, contudo, fazer mais do que os entreabrir, tal era a pressão que a intensidade da luz exercia sobre as suas palpebras.
Era, no entanto, o suficiente. Era tudo o que precisava para voltar a contemplar, por breves segundos que fosse, a doçura e suavidade da luz da sua lâmpada. Agora só o conseguia fazer assim, de tempos a tempos, e muito brevemente. Mas bastava-lhe.
O seu canto estava agora sempre presente, já não apenas no seu coração, mas em todo o seu redor, acarinhando-o, tranquilizando-o. Era esse canto que ainda lhe dava forças para continuar a suportar o calor e as demais agruras.
O calor! Nunca pensou que pudessem existir temperaturas tão elevadas como aquela. Nem na própria Sol, a Raínha das Lâmpadas, da qual nunca nenhuma barbaleta se tinha conseguido aproximar.
Mas nem esse calor cáustico, nem a própria luz, que a pouco e pouco o privava da visão, o faziam esmorecer ou querer ir embora. Nem mesmo aquela estranha impressão nas costas, aquela dormência, lá onde nasciam as suas belas asas.
Não sabia exactamente onde estava, nem há quanto tempo, nem sequer como tinha ido ali parar. Sabia apenas que estava junto dela. Da sua lâmpada. Só isso lhe interessava. Tudo o resto se tornava insignificante, perante essa realidade.
E lentamente, embalado pelo melodioso canto e pelo calor, deixou-se novamente adormecer...
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