::sábado, abril 15, 2006

A fogueira - III

(... continuando)

O primeiro ameaço de extinção por parte das chamas foi, no entanto, o suficiente para vencer a resistência dos mais renitentes, que com a prespectiva do regresso da escuridão e do frio se apressaram em se juntar aos demais na tarefa de manter acesas as chamas.

A dificuldade com que a madeira ardia obrigava-os a um trabalho intenso e constante, e passado pouco tempo já tinham aprendido a organizar-se por forma a tornarem-se mais eficazes, formando pequenos grupos, cada qual com a sua função específica: apanhar a lenha espalhada pelo terreno; cortar os ramos das árvores caídas (algo que se revelava bastante difícil, dado que contavam apenas com ferramentas muito rudimentares, que pouco mais eram que pedras afiadas); alimentar e manter as chamas da fogueira; e, finalmente, à vez, aquecer-se e retemperar forças junto da mesma.

As chamas não seriam nem as mais brilhantes nem as mais intensas, nem o calor que delas emanava o mais forte, mas era tudo o que tinham, e era o suficiente. Era, sem qualquer sombra de dúvida, muito melhor que a alternativa, e por isso agradeciam aos céus esta sua dádiva, que lhes dava uma nova sensação de segurança e lhes renovava a esperança no futuro.

Certo dia, porém, do céu que se mantinha pejado de nuvens, voltou a caír, inesperadamente, mas a uma distância segura, um relâmpago. Pouco depois, timidamente, soava o trovão que o acompanhava na descida. Assustados, com o terror de dias passados ainda bem presente na memória, concentraram-se rapidamente em redor da fogueira, tentando decidir o que fazer, enquanto esperavam pelo pior. Este, contudo, não chegou.

Nem chuva, nem vento, nem sequer mais trovões ou relâmpagos. Apenas, ao longe, lá onde tinha caído o raio isolado, o clarão de um novo fogo que despontava.

(continua...)