Intensamente
Ao atingir os noventa - oitenta e tal, talvez, noventa e poucos, já lhe era difícil precisar - parou e olhou em ambas as direcções.
Olhou para a frente, para o pouco que lhe faltava para os cem, mas que sabia ser tanto ou mais ainda do que tudo o que tinha percorrido até ali, tantos eram os obstáculos que ainda lhe barravam o caminho (e que, na realidade, eram os mesmos que encontrara antes e cuja transposição tinha sido meramente adiada, nunca efectuada).
Olhou para trás, para toda a extensão que percorrera, conseguindo ainda vislumbrar o ponto de partida, sem grande esforço, apesar da distância. Teria conseguido chegar até ali se tivesse deixado de acreditar aos quarenta? Se tivesse baixado os braços aos sessenta, ou desistido de lutar aos oitenta?
Sabia que o mais provável - o mais certo, não só para si como para todos os que assitiam - era não conseguir alcançar os cem que tinha como objectivo, mas essa 'quase certeza' não era suficiente para que desistisse do que se tinha proposto conseguir. Podia ser infinitesimal, mas estava lá, a probabilidade de ter sucesso.
Estava mais longe, mais alto, do que alguma vez pensara chegar, e isso contava para alguma coisa, sem dúvida. Especialmente quando pensava em todos os que ficavam pelo caminho, mais abaixo, ou nos que nem sequer se fazem a ele, pelos mais diversos motivos. Mas também não seria isso que o faria, ou lhe permitiria, parar.
A verdade é que já não tinha como voltar para trás. A fazê-lo, só mesmo a pique. E da altura que estava, enfim... Mas ao cair, ao bater no fundo, alegrar-se-ia e estaria em paz consigo, pois teria uma certeza: tinha lutado, tinha vivido. Intensamente!
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