O ratinho branco
Parou, no meio do caminho, e olhou para trás, sobre o ombro. Então, onde é que ele estava? Onde estava o gato? Virou-se para trás, sentou-se, e esperou um pouco. Nada. Ninguém. Que estranho! Tinha quase a certeza que ele estava ali, algures, escondido atrás da mobília ou da parede.
Sentia o seu cheiro no ar, ainda que muito ténue. Estava com certeza à espera que ele voltasse novamente costas para reatar a perseguição. Ah! Não o enganava, conhecia-o bem demais. Levantou-se. Raspando com as patas no chão, simulou que se afastava. Nada, novamente. Esperou mais um pouco. Silêncio. Bom, provavelmente não estava mesmo lá.
Talvez tivesse apanhado apenas algum odor residual de uma passagem do gato por ali. Ou talvez os seus sentidos o enganassem com a memória dos jogos de apanhada recentes, ou até mesmo de outros tempos mais antigos.
Tempos em que também ele fora um gato e ambos percorriam juntos as ruas da aldeia. Outros tempos. Bons tempos. Tempos que até deixavam um sabor a saudade. Mas tempos que haviam ficado para trás.
Agora era um belo ratinho branco, felpudo, com lindas orelhas rosadas. Com direito a uma gaiola só para ele, completa com roda de exercícios, almofadas de algodão e tudo o mais. Com ração, da boa, a horas certas. E, claro, a adoração dos meninos e meninas que tanto se divertiam com as suas brincadeiras.
Com tudo isto, não viria grande mal ao mundo se o gato não aparecesse mais. Teria saudades, claro. Era giro jogar às escondidas de vez em quando, pisar o risco, sentir a adrenalina a subir, mas podia passar bem sem isso. E sempre era uma preocupação a menos, afinal. Porque a qualquer momento a natureza poderia vir finalmente ao de cima, e qualquer desvio errado ou tropeção a meio da corrida fariam com que fosse facilmente apanhado! E lá se iria tudo o que tinha ganho no dia em que, por sorte, haviam entrado na casa do mago-feiticeiro. Brrrrr.... Nem gostava de pensar nisso.
Um novo odor, entretanto, invadiu-lhe as narinas e despertou-o do estado pensativo em que se encontrava: Cheddar! Claro, era 4ª feira! Quase que se esquecia. Porque é que estava ali parado, afinal? Para a cozinha, antes que desapareça!
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