Contigo
Apenas gaivotas, com os seus peitos brancos e asas negras ocupavam os areais.
Uma colónia grande (será bando?), com umas quantas dezenas de indivíduos, na praia grande, à esquerda, e um grupo mais pequeno, cerca de uma dúzia, muitos deles ainda 'filhotes', na pequena enseada à direita. A tua.
De início pensei que estivessem a apanhar banhos de sol, para enganar o frio, mas depressa percebi que não era esse o caso. Apanhavam, isso sim, banhos de sombra, seguindo-a para onde quer que esta fosse projectada pelo sol (ainda mal acabado de nascer). Lá teriam os seus motivos, por certo. Provavelmente estavam apenas a tentar dormir mais um pouco, e por isso mesmo a fugir à luz do dia.
Porque o dia já estava, de facto, luminoso.
Nuvens no céu só mesmo no horizonte, lá onde o mar lhe toca (a tradicional neblina dos arredores não conta, claro).
O céu azul poderia enganar em relação à temperatura ambiente, não estivéssemos em Dezembro, e não conhecêssemos já o vento que costuma soprar para aquelas bandas em todos os dias do ano, bem como a humidade que desce da Serra.
Saímos, por isso, bem agasalhados do carro, mas ainda assim o frio conseguiu encontrar um caminho até aos ossos. Até aos meus, pelo menos.
"Não tão bem agasalhados quanto isso, então", dirás.
O suficiente, direi eu, para descer até junto do mar e das suas ondas.
Até junto de ti. O suficiente para nos permitir ali ficar o tempo necessário para trocarmos dois dedos de conversa, para matarmos saudades. Aos pares. Eu e tu. Tu e ela.
Mais tu e ela, evidentemente.
Porque estas coisas dos amigos não são 'preto no branco'. Não basta classificar em 'amigo' e 'não amigo'. Porque para mim, e como saberás, a amizade existe em diferentes graus, diferentes níveis.
Somos um bom exemplo disso, aliás. Considerando a relação que nos une como amizade, e não tendo a mínima dúvida ou hesitação em declarar-me teu amigo (e vice-versa), não ouso compará-la à vossa: mais intensa, mais íntima, e até mesmo 'mais verdadeira'.
E por isso mesmo, devia ter-me lembrado mais cedo que ela havia de querer estar contigo nesse dia, mas não sei porquê, não me ocorreu. Mas também não me surpreendeu quando, na véspera, me perguntou se a queria acompanhar. Não foi a 1ª vez que fui com ela ter contigo. E não há-de ter sido a última, espero.
Gostei de te visitar. Tenho gostado sempre. Apesar de tudo.
Por ela. Por ti.
E pelo local, que é espectacular, e que tem muito a ver contigo. Digo eu.
Belo, com um espírito indomado (indomável). Talvez um pouco frio e até mesmo rude, à primeira vista. Torcido, pelo menos! ;)
Mas, acredito, muito recompensador para quem aprende a estar, a conhecer. A descobrir os cantinhos acolhedores e confortáveis, de onde melhor se pode apreciar tudo o resto. Como ela o soube fazer...
Foi bom estar contigo.
Ri-me quando lhe atiçaste aquela onda que lhe encharcou as botas.
Emocionei-me ao ver-vos a conversar, ao vê-la a contar-te das suas saudades.
E sorri ao ver as rosas azuis e amarelas espalhadas pelas ondas na areia molhada, porque me disseram que não estás sozinha.
Embora, na verdade, nunca tenhas estado.
Porque estás com ela, que nunca sai do teu lado.
E estás connosco.
É como diz a outra amiguinha: "Estamos juntos. Continuamos juntos..."
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