::quinta-feira, abril 21, 2005

Patinho feio

Pá! Deixa-te lá disso, por favor.

Não há nada que me irrite mais do que ouvir alguém queixar-se de barriga cheia. De barriga cheia, sim.

Ou pensarás tu que todos nós temos/tivemos direito ao nosso próprio conto de fadas?

Não é para todos, meu amigo.
Diria mesmo que é apenas para uma sortuda minoria. Apenas para alguns poucos privilegiados, acredita no que te digo.

E tu serás, sem qualquer sombra de dúvida, um deles.

"Ah e tal, ainda assim não passo de uma espécie de pato..."
"Ah não sei quê, foi tarde demais..."
"Ah o sapo teve melhor sorte com o beijo e coiso..."

Pois... tens alguma razão, de facto.
Mas, olha... azar!

Quem dera a muitos poderem/conseguirem deixar de ser 'simples' patos, para se tornarem cisnes, como tu. Porque, infelizmente, não é para todos, como já te disse.
Devias considerar-te muito afortunado pelo que tens, pelo que és.

E se veio tarde ou não, sinceramente, não sei. Mas olha que, se calhar, já depois de ter ocorrido, podias ter sido um pouco mais definido e concentrado naquilo que querias, ou não? Se calhar andaste demasiado tempo à deriva, digo eu. A 'recuperar tempo perdido' (ou nunca encontrado). Eh!

Mesmo com o teu novo longo pescoço, penugem branca e bico preto, não acreditaste. Faltou-te um 'bocadinho assim' de fé, de confiança, para ires à luta de corpo e alma, a 100%. E 'prontos', perdeste a oportunidade.

Mas é mesmo assim, meu caro. A sorte protege os audazes, e essa treta toda. E tu só o terás sido... tarde demais!

Quer dizer, olha para o sapo (ainda bem que foste tu que o referiste). Chegou, viu e venceu. E olha que deve haver muito poucas pessoas que o ponham à frente de um pato na fila (mesmo de um pato feio), quanto mais de um cisne.

Provavelmente a princesa é uma dessas poucoas pessoas, e ele teve mesmo sorte. Ou se calhar é do verde, que parece funcionar bem com elas. Vá-se lá saber. O que é certo é que conseguiu. Focou, lutou e ganhou o direito ao seu conto.

Tal como tu tiveste o teu, e até, provavelmente, com menos trabalho.
Não te podes queixar, pá!

Querias fazer a dobradinha, eu sei. Compreendo-te perfeitamente.
No fundo, és um sonhador, como aquele velhinho que comanda as águias, e os tais 6 milhões que as adoram.

Mas a vida não é um filme do Shreck, onde os contos andam todos aos trambolhões e ás cambalhotas uns com os outros, e onde tudo pode acontecer a toda a gente.

Na vida, quem vive um conto de fadas, seja ele qual for, deve dar graças por isso. Não é que não haja quem viva mais do que um, mas isso são casos raríssimos, verdadeiramente abençoados.

Claro que podes sempre tentar ser um deles, e até certo ponto até deves isso a ti mesmo, tal como qualquer um de nós.

Não, não me estou a contradizer. Porque não te estou a dizer para te contentares, repara. Apenas te digo que não te podes queixar, que devias apreciar o que alcançaste. Independentemente de quereres e tentares ir mais longe.

"Migalhas" - dizes tu - "Migalhas à beira do lago".

E então, não te alimentam, as migalhas? Não são boas, saborosas?
Essa coisa do 'nem só de pão' não é para patos e espécies associadas, rapaz. Como não o serão os castelos, as botas das 7 léguas e as princesas.

Aproveita o teu conto. Aproveita as migalhas.
Até porque nunca se sabe quando é que poderão acabar...