::sexta-feira, abril 21, 2006

Certo dia...

... dois homens ricos que se encontravam em viagem acabaram por ir dar à mesma estalagem, situada na encruzilhada dos seus caminhos.

Ao que chegou primeiro fez o estalajadeiro grande festa, pois muito o honrava e alegrava com a sua presença, cedendo a toda a comitiva os seus melhores aposentos, e tratando para que nada lhe faltasse.

A chegada do segundo viajante - tido em idêntica estima e consideração - causou-lhe para além de algum espanto, considerável transtorno, dado que já se encontravam ocupados os quartos que ao recém-chegado seriam devidos, e que este por sua vez o instava a lhe ceder.

Ao ver rebatidos todos os seus argumentos no sentido de demover o segundo viajante da sua intenção, viu-se o pobre estalajadeiro perante um terrível dilema, tendo acabado por ceder sob a pressão e revelado àquele a verdade: a sua casa há muito que não era o que aparentava, encontrando-se apodrecida tanto a estrutura que a sustentava como a própria mobília, e estando não só infestada por toda a espécie e maneira de insectos e vermes, mas também assombrada pelos espíritos dos mortos, que vagueavam pelos seus corredores.

A isto, e para sua surpresa, lhe respondeu o viajante o seguinte: "Muito agradeço a tua preocupação com o meu conforto e bem-estar, mas é aqui que pretendo descansar da minha jornada. Deixa pois que os meus artesãos se ocupem da renovação do teu edifício, e que os meus sacerdotes dele exorcisem as almas penadas que atormentam os teus hóspedes. Diz-me, porém, porque não revelaste tu a verdade àquele que se me antecedeu, por quem tanta admiração e respeito obviamente nutres?"