Quanto tempo?
Quanto tempo deixas passar até decidires levar o carro à oficina, para descobrir o que é aquele ruído estranho que se faz ouvir de vez em quando, na parte da frente do carro?
Pode não ser nada de mais, pode ser apenas da 'idade', da 'artrite' que também as máquinas vão ganhando, mas... e se não for? E se for um problema sério?
E se for algo que, a 140km/h numa autoestrada, possa provocar um acidente?
E se for algo que possa colocar a ti e a outros em risco?
Quanto tempo deixas passar até ires ao médico, para descobrir o que é que pode estar a provocar essas dores de cabeça recorrentes, ou aquela estranha pontada no abdómen, que vais sentindo com cada vez maior frequência?
Pode não ser nada de mais, pode ser apenas do cansaço, do stress, ou da simples falta de exercício e/ou de hábitos de alimentação mais saudáveis.
Mas... e se não for? E se for um problema sério?
E se for algo mais grave, mais profundo, que necessite de ser atacado o mais cedo possível?
E se for algo que, se negligenciado, possa vir a colocar os teus planos, a tua vida, em risco?
Quanto tempo deixas passar até fazeres o teste, para descobrires (ou descartares) a razão para não te ter já chegado o período?
Pode até não passar de um 'susto' (ou não, dependendo do que queiras), pode até não ser mais que o resultado de um jet-lag mais forte, ou até mesmo a tua 'desregulação' normal a ser um pouco mais irregular ainda, mas... e se não for?
E se for mesmo aquilo em que estás a pensar? Se não for um falso alarme, mas 'the real thing'?
Quanto tempo deixas passar até ires à procura nos bolsos das calças pelo bilhete de lotaria que compraste naquele dia em que sentiste a tua estrelinha da sorte a brilhar mais forte que nunca?
Pode até acontecer que não te tenha saído nada, ou que tenhas ganho apenas uma 'mísera' terminação, mas... e se não for esse o caso?
E se tiveres mesmo ganho a lotaria? E se te tiver saído o jackpot?
Vais deixar passar o prazo para reclamação do prémio? Vais deixar passar aquela que será provavelmente a tua única oportunidade para realizares muitos dos teus sonhos?
Quando se trata da tua saúde, quando se trata dos teus bens materiais, da tua 'qualidade de vida', quanto tempo aguentas a incerteza?
Quantas mais viagens fazes com aquele estranho fumo a sair do capot?
Quantas mais partidas jogas com a pé a latejar dessa forma?
Quantos mais excessos cometes enquanto uma vida pode estar a crescer dentro de ti?
Quantos mais projectos inadiáveis pões de parte por questões de 'indisponibilidade financeira'?
Quando é que te decides a enfrentar o desconhecido?
Quanto tempo, afinal, deixas passar, por medo ou distracção, antes de tentares descobrir a verdade sobre algo que pode ser importante para ti, algo que pode ter um forte impacto (positivo ou negativo) na tua vida e nas de todos que dela fazem parte?
Pouco tempo, arriscaria.
Apenas alguns dias, provavelmente.
Algumas semanas, no máximo, se o impacto de 'o que quer que seja' não for óbvio, ou imediato, no teu dia-a-dia.
Admito que em casos extremos, de insegurança ou descuido, até deixes passar uns meses,
podendo até ser necessário que alguém te chame à atenção, ou 'te dê na cabeça', para que, finalmente, te decidas a perceber o que se passa, e, eventualmente, a resolver a situação.
Assim sendo, porque tratas de forma diferente os sentimentos?
Porque deixas os dias transformarem-se em semanas, estas em meses, e estes, por sua vez, em anos?
Como consegues deixar um sentimento durante anos na indefinição, no 'não sei'?
Pior, como consegues deixá-lo durante tanto tempo escondido no 'não quero saber', e seguir em frente como se nada se passasse?
Será que acreditas que, ao contrário de uma doença ou de uma fuga de óleo, é suficiente ignorá-lo para que não tenha quaisquer consequências para ti e para quem te rodeia?
Pensarás que basta não falar dele para que deixe de ser real?
Que basta fechar os olhos para o 'papão' ir embora?
Deve ser isso.
E provavelmente até tens razão.
Deve ser assim, afinal, que se consegue "acreditar no que se vai viver", em vez de "viver aquilo em que se acredita".
Ignorando o que se sente, para que não colida com o resto, nem desvie do rumo traçado.
Recusando reconhecê-lo, dar-lhe um nome.
Porque ao contrário de outras coisas mágicas e sobrenaturais, que são controladas através do nome verdadeiro, estas podem controlar-nos a nós, se lhes admitirmos a existência e as chamarmos o que são.
E assim, voltas costas.
Trancas portas e janelas.
Passas para o outro lado da estrada.
Fazes de conta que não está lá.
Até que um dia, quando menos (o) esperares...
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