::domingo, maio 29, 2005

Certezas duvidosas

Sabes o que é um raid? Um jogo de pistas?
Se fores escuteiro sabes de certeza, e se não fores, o mais provável é que também o saibas. Afinal, quem é que nunca passou por um grupo de escuteiros de mochila às costas, a andar, andar, andar, pela berma da estrada, em direcção a parte incerta?

O raid tem (ou devia ter) outros objectivos para além do simples 'andar, andar, andar', mas não é sobre isso que te quero falar hoje.

Quando fazemos um raid, estamos a seguir determinadas pistas que nos foram previamente deixadas por quem o organizou, e que visam guiar-nos em direcção ao objectivo proposto. Essas pistas podem apresentar-se sob as mais variadas formas: um azimute, um percurso numa carta topográfica, um enigma, uma seta desenhada/construída no chão, etc...

Muitas vezes, a meio de um raid, deparamo-nos com encruzilhadas, sendo obrigados a escolher o caminho certo a seguir, podendo a pista que no-lo indica encontrar-se 'logo ali' no cruzamento/bifurcação, ou um pouco mais à frente em cada um dos caminhos alternativos.

Aquilo que ensinamos os nossos miúdos a fazer nestas situações, é a explorar um pouco cada um dos caminhos (fazer o verdadeiro 'scouting'), por forma a tentarem encontrar num deles a pista que lhes permita enverdar pelo caminho certo. A 'seta' que indica o caminho a seguir ou a 'cruz' que indica o caminho a evitar. E regra geral, um pouco mais perto ou um pouco mais longe, mais ou menos evidentes, elas estão lá.

É relativamente simples. Mas, ainda assim, o pessoal vai-se perdendo, de vez em quando. Umas vezes porque não estamos habituados àquele tipo específico de pistas e não as sabemos ler correctamente, outras porque não lhes prestámos a devida atenção, e outras ainda porque elas estão mesmo mal colocadas.

Colocados perante a necessidade (e eventual urgência) de uma escolha, fazêmo-la, por vezes, sem realizar a exploração que nos permita esclarecer todas as dúvidas quanto ao caminho a seguir. E avançamos por um deles. Uma vezes convictos, com a certeza do que estamos a fazer, outras não tanto assim. E quando estamos no caminho errado, quanto mais tarde começarmos a duvidar da nossa certeza, pior.

No raid, como na vida.
A tal, que é feita de escolhas.
As tais, através das quais evoluímos, crescemos e nos definimos.

O nosso 'problema' com as escolhas da vida, para além da evidente falta de pistas concretas e certas, é não termos a flexibilidade e o leque de possibilidades que temos no raid: o explorar um pouco de cada uma das alternativas; o parar a qualquer momento para nos (re)orientarmos; o voltar atrás para refazer a escolha; o saltar, a meio de um caminho, para outro, que nos leva ao mesmo destino, mas de forma diferente (com mais ou menos sombra, mais ou menos cor, mais ou menos ar puro, etc.).

Mas... será que não temos mesmo, ou pura e simplesmente não nos permitimos ter?

Pelo medo de perder, de todo, o caminho para o objectivo definido; pela urgência em lá chegar, que não se compadece com o tempo que se perde a esclarecer dúvidas e confusões; por falta de visão, por acreditar em impossíveis e em 'pontos de não retorno'; por recear os dedos que nos apontariam à falta de 'maturidade' e/ou 'responsabilidade'... porquê?