::segunda-feira, outubro 29, 2007

O jogo

Sabíamos que entrávamos em campo a perder, e que as hipóteses de vencer seriam mínimas.

Sabíamos que o adversário teria (como tem) muito melhores condições, a todos os níveis. Sabíamos que teria TODAS as condições, de facto, dentro e fora do campo. Melhor preparação, melhor equipamento, mais e melhor informação... Tudo melhor.

Sabíamos, como toda a gente sabia (excepto talvez, e estranha e paradoxalmente, o próprio adversário) que o árbitro iria roubar-nos, 'à descarada'. Que iria permitir todo o tipo de abusos ao outro lado, ao mesmo tempo que inventaria faltas atrás de faltas, de toda a espécie e feitio, contra nós.

Sabíamos que a própria organização fecharia os olhos a todas as desigualdades e injustiças, e que, inclusivé, as promoveria activamente.

Sabíamos que o público, adepto ferrenho da outra equipe, nos olharia com desconfiança: éramos estranhos naquele meio, clandestinos, de certa forma. Amadores num jogo para profissionais, claramente 'out of our league'. Estávamos a mais. A perturbar.

Ainda assim, e porque até aquele momento, e apesar de todos os sonhos, nunca acreditáramos poder competir naquele campeonato, aceitámos as regras e entrámos no jogo.

Não que não tentássemos contorná-las sempre que nos pareciam demasiado injustas ou desadequadas, ou que não procurássemos, junto de quem de direito, que fossem alteradas. Mas tínhamos perfeita consciência do que eram, do que implicavam, e de que, para poder jogar, tínhamos de nos sujeitar a elas.

E se queríamos jogar!

Por esse previlégio - e pela hipótese, ainda que remota (ridícula?), de vir a ganhar - aguentámos de tudo: as entradas violentíssimas e as faltas inexistentes; as agendas trocadas com direito a perder jogos por falta de comparência; os jogos terminados abruptamente, sempre que convinha; os apupos do público e os apedrejamentos da claque adversária...

Mas mantivémo-nos firmes, jogando. E até marcando um ponto, aqui e ali. Que de pouco ou nada servem, claro, quando tudo nos empurra para baixo da 'linha de água', mas que foram alimentando um sonho impossível de vitória, de conquista do título.

Acreditámos sempre que a nossa preserverança, o nosso amor à camisola, todo o esforço e dedicação com que nos entregávamos à 'luta', haveriam de dar frutos, e eventualmente mudar o rumo das coisas: mudar mentalidades, mudar atitudes, mudar as próprias regras do jogo, tornando-o mais justo, mais equilibrado, mais... ganhável.

Acreditámos sempre.

Mas hoje... hoje estamos demasiado cansados para continuar a acreditar.