::domingo, janeiro 09, 2005

As artes

Quando, num post anterior, me referi ao 'lavar a loiça' como sendo para mim a 11ª arte, não pretendia com isso dar a entender que teria/dominava outras 10.

Tentava apenas demonstrar o gosto pela coisa, equiparando-a às restantes artes 'catalogadas', da mesma forma que, por exemplo, chamamos ao cinema a 7ª arte. Ou a 9ª, à Banda Desenhada.

Se lhe dei a 11ª posição, foi apenas para precaver uma eventual prévia atribuição da 10ª a qualquer outra arte.

As vossas questões acordaram, no entanto, uma dúvida adormecida:

Quais serão as outras?
Qual será a 1ª? Qual será a 8ª?
Haverá já, de facto, uma 10ª?

Desenho, Pintura, Escultura, Música, Dança, Arquitectura...
Em que posição terão sido catalogadas?

Procurei, procurei, procurei... mas nada de concreto encontrei.

Para além de referências à 7ª e à 9ª, não consegui encontrar nenhum site, nenhum texto, em que se apresentasse esta ordenação das artes, por forma a responder à questão.

Terás tu a resposta?
Conhecerás, por ventura, o 'indíce das artes'?
E quererás partilhar esse conhecimento connosco?


A talho de foice

Também posso aproveitar para (tentar) responder à tua pergunta, claro.

Quais são as minhas outras artes, para além do 'lavar loiça'?

Ora deixa cá ver...

Uma delas será, sem dúvida, e como já aqui foi indiciado, a 'rabujice' ou 'rezinguice'.
Uma arte que tem vindo a evoluir de forma mais ou menos natural, ao longo da minha vida, tendo já atingido um grau elevado de sublimação, que qualquer pessoa que já tenha trabalhado/privado minimamente comigo poderá atestar.

Associada a esta, e por vezes indistinguível, vem a 'irritância'.
Que é como quem diz, a arte de provocar reacções do género "Tu não me irrites!" e "Ai que irritante!". Diria que já serei, senão cinturão negro, pelo menos castanho, nesta arte.

Curiosamente (ou não), é junto do 'sexo-fraco' que as minhas artes parecem ter mais sucesso. É esse o caso com qualquer uma das anteriores e também com outras, como por exemplo, a arte do 'levantar da lebre'. Que costuma provocar as mais diversas reacções, embora todas com uma mesma ressonância: "Não me faças isso!", "Conta, conta, conta!", "Oh pá, diz lá!", etc.

Enquanto que quer a 'irritância', quer a 'rabujice', me são mais ou menos inatas, e saem com uma certa naturalidade (não me dando, contudo, especial prazer), esta última já exige um certo esforço consciente, uma certa intenção, acabando também por dar muito mais gozo na sua prática.

Tal como outra arte que tenho vindo a desenvolver ultimamente: a arte de 'cutucar a onça com vara curta'.
Vistas bem as coisas, esta acaba por não ser mais que uma combinação/derivação da 'irritância' e do 'levantar da lebre', mas envolvendo, no entanto, outro tipo de risco para o artista. Um arte mais radical, se quiseres, e que por isso mesmo provoca um maior fluxo de adrenalina.

E vão... cinco? Cinco!
Haverão mais?
Hum...

No outro dia chamaste-me "o verdadeiro artista das histórias escondidas", não foi?
Bem, suponho que podemos inscrever isso como uma das minhas artes. Ainda pouco desenvolvida, talvez, ainda muito 'verde e crua', mas que também me dá muito gosto. Contar histórias. Histórias dentro de histórias. Histórias por detrás de histórias. Histórias à volta de histórias. E por aí adiante. Uma arte que serve, muitas vezes, de veículo para outras das minhas artes já aqui referidas.

Tu também já me chamaste artista doutras coisas.
E imagino que tu também já o tenhas feito.
Tal como outros.
Belas-artes nuns casos, artes vis noutros.
Não me cabe a mim classificá-las ou referi-las, a essas de 'atribuição alheia'.

Parece que me fico pelas seis, portanto, omitindo as 'ocultas'.

Ou não? Seis não me soa bem.
Porque o meu número é o 7.
E porque falta uma, claro.

A única 'verdadeira': o desenho.
A minha preferida de entre as 'artes clássicas' (como executante, pelo menos), e a única em que me safo minimamente.

Há quem diga que tenho algum jeito para a coisa, e até já aconteceu perguntarem-me se trabalho na 'área', em alguma coisa relacionada com desenho, design, etc.

E às vezes, quando olho para algumas das coisas que faço, para os rabiscos que me vão saindo entre um programa e outro, ou a meio de uma reunião, também me pergunto o porquê de não dedicar mais tempo a este gosto, o porquê de não fazer por aprimorar a minha arte e de não lutar mais por esse sonho (de menino) de ser um 'artista da BD'.

Falta de tempo? Preguiça? Subjugação ao 'vil metal'?
Medo de falhar, derivado do realismo e da constatação da falta de 'arte e engenho'?

Ou será alguma voz interior a gritar-me na alma que a minha verdadeira vocação está na cozinha, no lava-loiças, entre pratos, esfregões e detergente de aloe-vera super-concentrado?