Londres
Apaixonei-me por ela, pela sua vida, há uns bons 10 ou mais anos, quando a visitei pela primeira vez, contigo.
Nunca hei-de esquecer aquele momento em que emergimos pela primeira vez do metro, em plena Oxford Street, apenas para ser submergidos por um mar de gente maior do que qualquer um onde alguma vez me tinha banhado.
A diversidade de raças e culturas, a grandiosidade e beleza dos edifícios, os parques, a infindável e confusa rede de metro, Picadilly à noite, o nº 100 de Oxford St. onde esperava encontrar a loja de jogos de roleplay mas que afinal já não estava lá, Leicester Square, BP's House, os autocarros vermelhos do hop-on hop-off, o Soho, a própria Pousada da Juventude em Noel Street (que não era nada de especial, mas pronto, foi a primeira), todo aquele constante movimento... UAU!
Foi amor à primeira vis(i)ta.
Matei saudades em 97, quando por lá passei um fim-de-semana contigo, no regresso de uma certificação que fomos fazer à IBM (algures para o interior). Nada de Youth Hostel, dessa vez. Hotel de quatro estrelas, perto do Royal Albert Hall, à conta do 'bonus refund' atribuído a quem passava no exame (que foi o nosso caso). Tempo suficiente para dar a volta turística pela cidade, uns bifes nas Steak Houses, e pouco mais. Soube a pouco. Mas soube bem.
Voltei o ano passado, sete anos depois, por altura da Páscoa, dessa feita a caminho da TecSol, a 3 horas e pouco de viagem para Norte, em Norfolk, para a formação em PowerGate. E tu foste comigo, embora talvez não o saibas. Por mais que te diga que estamos sempre juntos, às vezes esqueces-te, ou não acreditas, não é?
Dois dias e meio para a rever, para lhe conhecer as novidades, para descobrir becos e ruelas inexplorados. Para pagar 10€ por um bilhete de cinema, para ir ver o fabuloso Mamma Mia (a teu conselho, obrigado), para me especializar nas cores do metro, para me deliciar com o quarteto de cordas em Covent Garden, para me passear em Hyde Park, em Kensington Gardens e pelo cenário do 'Shakespeare in love', para tentar e falhar um volta no 'Eye of London', para comprar, entre outras coisas, a toalha-macaco para o puto, e para chegar ao fim de cada dia estourado de o passar a andar (literalmente e de metro) de um lado para o outro.
E hoje... hoje, uns cabrões (não lhes chamo filhos da puta porque as mães, provavelmente, não têm culpa de nada), decidiram levar até ela o horror, e lutar com as armas que têm, quiçá a própria vida, por um distorcido sentido de 'justiça', contra aqueles que não têm culpa de nada, e que, como a esmagadora maioria de nós, apenas tentam fazer o melhor que podem na vida. Na vida que muitos perderam, e possivelmente muitos outros irão perder, para um ódio cego e cobarde que não vê que não é aprisionando inocentes no terror que alcança qualquer objectivo, para além da primária vingança.
Hoje, como no ano passado em Madrid.
Como há 4 anos em Nova York.
Como todos os dias em Bagdad.
Como desde sempre por todo o Mundo.
Não devia haver diferença para o choque.
Para o repúdio. Para o desgosto.
Mas há.
Porque hoje foi mais perto. Mais perto do coração.
Hoje foi na 'minha' Londres. Em sítios por onde passei, e onde me maravilhei, com pessoas com quem poderei, eventualmente, ter-me cruzado, ou até mesmo cumprimentado.
Custa sempre mais quando algo de mau acontece a alguém que nos diz mais, que trazemos sempre connosco, que faz parte do que somos. A alguém, a algo, ou a um local. E Londres, os edifícios, as pessoas, toda aquela energia que me apaixonou, é um desses locais.
Diria que está em mim para as cidades, como tu estás para as pessoas.
E por isso choro um bocadinho, por dentro...
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